Policiais militares atrás das grades

Policiais militares atrás das grades

Polícia federal prende 19 PMs acusados de fazer parte de um grupo de extermínio que agia em Goiás

Cabeceiras,GO 16-02-2011 ás 08h30min
Dezenove policiais militares, inclusive o subcomandante da Polícia Militar em Goiás, foram presos ontem pela Polícia Federal acusados de participarem de grupos de extermínio. A PF investiga a participação dos presos em mais de 40 execuções em Goiânia, Formosa, Rio Verde, Acreúna e Alvorada do Norte. Os ex-secretários Ernesto Roller (Segurança Pública), hoje Procurador-Geral da Prefeitura de Goiânia, e Jorcelino Braga (Fazenda) foram intimados a prestar depoimento por indícios de prática de tráfico de influência.

Na Operação Sexto Mandamento (em referência ao decálogo bíblico) foram cumpridos 19 mandados de prisão preventiva e 8 mandados de prisão temporária (alguns dos acusados tiveram mais de um mandado de prisão), bem como mandados de busca e apreensão. As prisões ocorreram em Goiânia, Acreúna, Flores de Goiás e em Formosa.

Os trabalhos foram dirigidos por três delegados da Coordenação Geral de Defesa Institucional (CGDI) da PF. Entre os casos investigados está a execução de crianças, adolescentes e mulheres, sem qualquer envolvimento com práticas criminosas. As investigações demonstraram ainda que outros homicídios foram praticados pelos policiais militares detidos durante o horário de serviço usando viaturas da corporação em supostas trocas de tiro com criminosos. Conforme a PF, o grupo especializou-se ainda na ocultação de cadáveres.

As investigações que resultaram na operação Sexto Mandamento tiveram início há um ano. Conforme a PF foi evidenciado que o grupo agiu nos últimos dez anos. Onde os investigados se instalavam em decorrência de remoções, o número de vítimas de homicídios em supostos confrontos com a corporação aumentava consideravelmente.


Os 13 oficiais detidos em Goiânia foram levados no início da manhã para a sede da PF. Foram presos o coronel Carlos Cézar Macário, exonerado ontem cedo do cargo de subcomandante da PM e chefe do estado-maior da PM goiana; o tenente-coronel Ricardo Rocha Batista, os majores Alessandri Rocha Almeida e André Ribeiro Nunes; o capitão Durvalino Câmara Santos Júnior e os tenentes Vitor Jorge Fernandes e Ederson Trindade.

Também estão presos os subtenentes Fritz Agapito Figueiredo e Hamilton Costa Neves, o sargento Geson Marques Ferreira e os cabos Cláudio Henrique Camargos, Alex Sandro Souza Santos e Ricardo Machado. Além da prática de crimes de homicídio qualificado em atividades típicas de grupo de extermínio, os integrantes serão indiciados pela prática de formação de quadrilha, tortura qualificada, tráfico de influência, falso testemunho, prevaricação, fraude processual, ocultação de cadáver, posse ilegal de arma de fogo de calibre restrito e ameaça a autoridades públicas, jornalistas e testemunhas.
A Polícia Federal não individualizou que tipo de crime cada preso é suspeito de ter cometido, alegando que a investigação corre em segredo de justiça.

Secretários
Os ex-secretários estaduais da Fazenda, Jorcelino Braga, e da Segurança Pública, Ernesto Roller, foram intimados a prestar esclarecimentos sobre indícios de prática de tráfico de influência que resultaram nas promoções de patentes dos envolvidos com a organização criminosa.

A operação contou com a participação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do Ministério Público de Goiás, do Poder Judiciário de Goiás, da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, além dos Comandos da Polícia Militar e da Polícia Civil de Goiás.

A operação Sexto Mandamento contou com a participação de 18 equipes compostas de 131 policiais federais, a grande maioria deles oriundos de Brasília, Amazonas e Minas Gerais, e 12 oficiais da PM de Goiás. Também foram convidados a integrar as atividades médicos e socorristas do Corpo de
Bombeiros do Distrito Federal. Entre os policiais federais estavam integrantes do Comando de Operações Táticas, treinados para atuar em ações que podem originar confronto.

Visivelmente apreensivos, familiares dos detidos também permaneceram no local na sede da PF aguardando informações por horas. Vários policiais à paisana estiveram no local. Um carro da Rotam, de número 4520, com três integrantes, ficou estacionada diante da PF. "São nossos colegas. É uma questão de camaradagem", disse um oficial.

Outro que compareceu à sede da PF para "prestar solidariedade aos colegas" foi o deputado eleito Major Araújo. "Não estou surpreso, somente com alguns nomes. Mas já sabemos que o tratamento da PF foi respeitoso", comentou.

DIVERGÊNCIA
Nome divide cristãos
O nome da operação deflagrada pela Polícia Federal divide cristão. A alcunha faz referência ao mandamento "não matarás", que para os católicos romanos é o quinto, diferentemente des outras religiões. Os fiéis da Igreja de Roma consideram como primeiro mandamento os versículos de dois a cinco do capítulo 20 do Êxodo. Para eles, "não matarás" é quinto mandamento bíblico.

Para os protestantes, judeus e católicos ortodoxos esses versículos são separados em dois mandamentos: "não terás outros deuses além de mim" e "não farás para ti nenhum ídolo". Dessa forma, a contagem da Lei de Deus configura "não matarás" como sexto mandamento bíblico.

"A questão do primeiro mandamento tem a ver com a reforma protestante", explica o teólogo Valmor da Silva, coordenador do programa de pós graduação em Ciências da Religião da PUC-GO.

Fonte: O Popular

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